sábado, 22 de agosto de 2009

Segredo

O palhaço despedaçou
A tinta do rosto que desconhecia.

Descobriu que descobria qualquer som colorido
Que a correnteza dos esgotos na sarjeta, em qualquer fim de tarde de chuva fresca
Em um barco de papel pulsava
O quebra-cabeça da própria expressão:
Uma máscara
Cadeada
Por um novo rosto nu.

Mas por ser palhaço, não sabia
Que a memória é extinta
Na própria expansão.

E o anúncio no jornal vira ruína
E nossa ruína o passado
E desvedaríamos o que?
Nossa própria
Extinção.

Reflexo

O risco
de todo o som
O borrão
de todas as luzes
O piano em cada voz de esquina que passa e confunde
A voz divina
A própria
Voz.

Cicatrizes são fases escondidas da dor
Como a cinza do incêndio
Como os raios que celebram o céu,
O quadro que reflete na pintura do interior de si no outro e o infinito
Até tornar-se
Tudo.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Tapete Voador

A felicidade prega o sentido da alma.

Perdalusão perplexa de parir sementes hostis
Redescobertas mandalas
Refletidas no espelho tácido inconstante
Inconstantemente ter
A fuga da palavra.

Simbologia Atrocidade Hábito Inocência Reflexão Anomia Crime Negação Analogia Narcótico

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Passa paisagem, trem
Alguém
Florestas, e alguma coisa urbana
Passam carros, ruídos, som
Construções e desconstruções
Materiais e imateriais
Passam cores, amores
Cores vivas ou incolores
Nos olhos, no vento
Em um sorriso desbotado
Passam saberes
sólidos, incostantes
Feitos de tempo
Passa a saudade,
a dor, o orgasmo
Passa a vontade do café
e do cigarro
Passa então, desapercebida
Breve como uma poesia
Passa a vida.
A tempestade distante
Trovejava introspecção
Seus raios tão fortes
Quanto a janela de vidro
Que separava o feto
Das nuvens e estrelas
Lentamente deformadas
Pela luz do sol nascente

Quantos sóis haverão de nascer,
Livres para iluminar o mundo
E o universo?
Nenhum céu
é virgem.

Confundir

Acreditar
No barulho dos carros
As ondas do mar

Sinestesia 1

A morte do sentido do toque
Da visão moldada pelo toque
Ou do toque que quer ver.

O cego distante
Seu único amante
Alerta os passageiros da finitude
Para as mãos rígidas
Que derretem junto ao corpo
Extendido e embalado em um berço de nuvens

Ah, eu ouvi dizer, amante de si!
Ouvi dizer que fazes parte do outro!
A mentira da solidão
Não é percebida
Pela solitude dos acompanhados